Direto da Praça 314r7

Paulo Pires

Lasciate ogni speranza, voi ch’entrate

Corre pelas praças, campos e construções que alguns médicos pensam que são deuses e, pior que isso, alguns jornalistas não pensam, tem certeza. Ora, sendo assim, declaro estar me dedicando ao saboroso exercício de pensar que não sou mais humano: Sou um deus olímpico. É brincadeira? Estou me divertindo. Vocês não sabem como é bom ser um deus olímpico.

Agora vivendo espasmodicamente como essa fabulosa entidade, acompanho o desenrolar das eleições 2010 no Brasil com o maior cinismo [no sentido clássico do termo]. Fico ao lado de outros deuses e assistimos com frieza ao grande espetáculo. Sentimo-nos [como deuses que somos] espectadores super privilegiados. Em nossas observações, e gozando de absoluta neutralidade, palpitamos, sorrimos, destacamos e deploramos virtudes e vicissitudes da política e dos políticos brasileiros. De vez em quando penso como um ser humano, mas imediatamente volto a pensar como um deus olímpico. Nesta condição reflito: Ah, como é bom não disputar nada. Como é bom ficar distante de objetivos que os seres humanos ambicionam. Ah, como é bom!…

Confesso, todavia, que mesmo à distância e indiferente ao resultado do certame, não consigo esconder aspectos que me preocupam. Penso que essas reflexões servem de alerta para todos que pretendem entrar na Política. Observem o momento atual para colocar as orelhas [ou barbas] de molho. Um dos episódios mais indesejáveis e criticáveis da vida pública é a traição política. Trata-se de uma safadeza inominável e que, infelizmente, acontece eventualmente com pessoas que buscam Mandato Popular.  Ser traído pelos pares, os próprios companheiros de partido é cruel demais.

Quero aqui reiterar minha perplexidade quanto ao tratamento do PSDB, nosso maior partido de Oposição em relação ao candidato Serra.  No início deste ano o Partido cerrou fogo para que o governador de São Paulo se colocasse à disposição e saísse candidato à Presidência da República. Serra relutou, relutou até que em 12 de junho aceitou o encargo. Pronto. Nome melhor e mais forte não havia, pensei comigo. Ali estava um político experiente, sério, trajetória parlamentar de alto nível e um executivo competente com aprovação popular e a mais alta respeitabilidade. Em suma: Homem com todas as credenciais para ser o representante-mór da Oposição Brasileira.  Mas o que fizeram os seus companheiros? Bem, aí é que a coisa pega. Se avaliarmos todos os companheiros, exceção para alguns  de São Paulo, todo mundo tratou de cuidar de sua vida e largou o candidato Serra dentro de uma Barca sem velas, bússola, água, mantimentos, sobre um mar revolto que só a experiência do lendário Ulisses de Homero poderia superar e ultraar. 

Os seus companheiros tiraram o time e trataram de salvar a própria pele. Deixaram o experiente Serra numa Camisa de Sete Varas que o tem levado a uma posição de sacrifício, no pior sentido inglês do termo. Lembrando que Camisa de Sete Varas eram as camisolas vestidas em antigos condenados ingleses quando conduzidos ao enforcamento. Deplorável, indesculpável… Abaixo segue trecho de uma matéria colhida no blog de Guilherme Barros que já prenunciava e explica a relutância de Serra:

“O cientista político Alberto Almeida, do Instituto Análise, está sendo chamado no mercado financeiro de polvo Paul, o molusco que acertou todos os seus palpites na Copa do Mundo. Desde maio do ano ado, Alberto Almeida tem mostrado a banqueiros pesquisas e simulações praticamente dando como certa a vitória de Dilma Roussef no primeiro turno. Bastava, segundo ele, que Lula conseguisse transferir 60% de sua popularidade para a sua candidata”. 

“Em suas simulações, Almeida dizia que Dilma ganharia de Serra com uma margem de cerca de 20 pontos. Ele acha que a diferença deve se estabilizar nesse patamar, com uma margem de erro de três pontos. O cientista político fez diversas simulações. Numa delas, ele próprio se apresentava como candidato numa fotografia abraçado a Lula numa disputa contra Serra no segundo turno. E ele perdia por apenas 12 pontos de diferença”.

Concluindo, diria que para entrar numa campanha, dessas, contra um adversário poderoso como o Lula, seria indispensável refletir sobre o que está escrito no Portal do Inferno, no poema do magistral Dante Alighieri [A Divina Comédia]: “Deixai qualquer esperança, vós que aqui entrais”.  Tradução para o título desta coluna.  Cordiais saudações e até a próxima.

10 Respostas para “Direto da Praça” 6g386q

  1. ESCRACHADOR 4g733y

    O candidato José Serra vencerá nas URNAS!. Para o bem da nação.

  2. francisco silva filho 5u4t50

    Querido professor Paulo Pires é muito bom ler as suas crônicas, acho-as sagazes e muito divertidas. Mas, fico aqui a pensar em que sentido o senhor usou o termo “Deus Olímpico”; imaginei o amigo professor sendo agraciado após intensa corrida de 100 metros rasos batendo todos o recordes e ganhando trípla medalha de ouro por feito inédito e jamais a ser batido. Não consigo ver um “Deus Olímpico” senão dessa forma. Agora, pela imortalidade e divindade, não seria que o senhor estivesse se sentindo um “Deus do Olimpo”" crossorigin="anonymous">